TRILOGIA DEGENERADA
SINOPSE
“No século XX, erradicar a ‘degeneração’ tornou-se uma justificativa para vários programas de eugenia, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Eugenistas adotaram o conceito, usando-o para justificar a esterilização dos supostamente incapazes.
Os nazis também assumiram estes esforços eugênicos, incluindo o extermínio, para aqueles que poderiam ‘corromper’ as gerações futuras. Também aplicaram o conceito à arte, banindo a arte e música ‘degeneradas" (entartete). Pessoal do Faroeste apresentou sua Trilogia Degenerada revelando a cidade de São Paulo sob o olhar de 8 anos de pesquisa.
Desde sua fundação, há 15 anos, a Cia dedica-se ao mergulho no processo de formação da capital paulista em busca do entendimento da disparidade que sente sobre ela: a atração e repulsa por cada esquina.
Originalmente montadas em anos distintos, às três peças seguem a linearidade de temas como a eugenia (limpeza étnica) e a transformação da sociedade através dos acontecimentos do século XX, todas com enredo próprio e inspirado em teses acadêmicas.
SOBRE AS PEÇAS
Com inspiração no melodrama e no teatro Épico a cena se constrói amparadas na dramaturgia física dos atores por meio de elementos cênicos como cajones peruanos e as próprias vozes dos atores.
A primeira parte da Trilogia... que compete, Os Crimes de Preto Amaral e Labirinto Reencarnado, ocorre sob o Palco Italiano com cortinas transparentes e coxias sombreadas. A desconstrução da dita “caixa preta” conduz o público a última parte da Montagem, o camarim é o espaço escolhido para a trama de Re-bentos. A impressão para a platéia é de que a arquibancada invade o palco, enquanto os enredos acontecem. Os figurinos são em tons nude, com pedaços de tecidos e peças recicladas do acervo da Cia. Cenário e luz serão operados pelos próprios atores e o fio condutor para nortear a temporalidade das peças, são os meios de comunicação: o jornal impresso, rádio e televisão.
Os Crimes de Preto Amaral (1927)
Inspirado no mito grego de Orfeu e Eurídice, o ponto de partida para a montagem de Os Crimes do Preto Amaral foi a tese apresentada por Paulo Fernando de Souza Campos em seu doutoramento na Universidade Estadual Paulista – UNESP. O estudo analisou crimes ocorridos na passagem de 1926 para 1927, atribuídos a José Augusto do Amaral (que morreu sem ser julgado) e conclui que o fato de o acusado ser negro contribuiu para sua condenação. Na época, muitos acreditavam que os negros e os pobres eram violentos e tinham herdado essa característica de seus antepassados. Mentalidade desenvolvida a partir do darwinismo social que culminou no nazismo. Curiosidade é que o caso envolvendo os crimes de Preto Amaral está no Museu do Crime, da USP. Os únicos personagens históricos reais do espetáculo são Preto Amaral e as mães das vítimas de seus crimes. O restante é inspirado em personagens que fazem parte do mito de Orfeu e personalidades da história de São Paulo. Os crimes supostamente cometidos, na vida real, por Preto Amaral são recriados a partir da novela de suspense escrita pelo personagem Himeneu – jornalista filho único e herdeiro de um grande jornal. Notícias sobre os crimes também servem como base para a peça.
Labirinto Reencarnado (1944)
Inspirado no mito de Ícaro e Dédalo, Labirinto conta a história de um jovem membro da aeronáutica brasileira, filho de um cristão novo (convertido judeu a cristão) e de uma católica. Dédalo é engenheiro eugenista que constrói presídios, manicômios e hospitais e termina por atravessar um grande conflito religioso, pois a Segunda Guerra (resultado da eugenia hitlerista) extermina seu antigo povo judeu na Europa. Ícaro passa a ser integrante da juventude hitlerista e vai para guerra lutar pelo nazismo. Nesse contexto, surge a personagem Ananda, enfermeira e amiga de infância de Ícaro, resultante da pesquisa de branqueamento da elite eugenista, na peça a enfermagem brasileira é tratada com forte simbologia social. A época ficou conhecida como o Marco da Emancipação Profissional da Mulher Moderna com o advento das enfermeiras no front de guerra e tinha o rádio como o formato imediato de comunicação no mundo.
Re-bentos (2000)
Inspirada no mito grego de Eros e Psiquê, a peça se desenvolve no decorrer de um dia decisivo na vida de um cortiço que, durante a trama, revela-se um dos principais centros de distribuição de drogas do país. A conhecida região de Boca do Lixo - a “cracolândia” – movimenta uma operação de tráfico que envolve setores importantes da política e do poder judiciário brasileiros.Re-bentos é inspirado no livro Rebentos do poeta parnasiano e mecenas da arte modernista do Brasil, Senador Freitas Valle, representante da casta elite que habitou os palacetes deste período e que, em nosso enredo, foram invadidos pelos pobres desabrigados do início do século XX. A peça traz à tona a reflexão sobre ocupações dos espaços urbanos.
FICHA TÉCNICA
Direção Geral e Dramaturgia: Paulo Faria
Co-Direção: Iarlei Rangel
Elenco: Eduardo Gomes, Iratã Rocha, Mariza Junqueira, Neusa Velasco, Paulo Faria, Rogério Brito, Thaís Aguiar
Direção de Produção: Sabrina Flechtman
Produção Administrativa: Teca d'Alessio Produção Executiva: Gustavo Sol (1ª. Fase) e Valmir Gustavo (2ª Fase)
Produção de Comunicação: Vanessa Hassegawa
Assistente de Produção e Contraregragem: Robson Teuri
Espaço Cênico: Paulo Faria
Aderecista: Jeferson Cecim
Iluminação: Iarlei Rangel e Paulo Faria
Assistente de Iluminação: Murilo Borges
Técnico de Luz: Tomate Saraiva
Operação de Luz: Paulo Faria e Robson Teuri
Figurino: Lívia Loureiro
Os chales em cena são obras de Maria Bonomi que os cedeu gentilmente ao Pessoal do Faroeste
Sonoplastia e Trilha: Pessoal do Faroeste - criação coletiva
Arte Gráfica: Daniel Lopes
Audio Visual: Dario José Fotos do
Espetáculo: Lenise Pinheiro
Preparação Vocal e Regência Musical: Denise Venturini
Preparação Percussiva: Jorge Peña
Preparação Corporal: Érika Moura
Assessoria Jurídica: Dr. Cássio Augusto Torres de Camargo